BRM 200 km Randonneurs Lapa (Comemorativo 100 anos do Audax Club Parisien Randonneur)


 BRM 200 km Randonneurs Lapa (Comemorativo 100 anos do Audax Club Parisien Randonneur) #ciclismoderesistencia


Trajeto: Lapa/CWB/Lapa

No sábado, mais precisamente 11 de setembro de 21 e, pontualmente às seis horas, mais de vinte “Guerreiros Randonneurs” largaram em busca do imprevisível. No QG dos Sabóia o sinal de largada com muito entusiasmo e energia positiva, sempre! Acrescido das orientações e vistorias de praxe. Enfim, vida de Randoneiro é repleta de incertezas. Assim, tentar reconstruir a importância dessa data, desse BRM, somente com o suor derramado em cada centímetro asfáltico espalhado pelo planeta. Isso, mesmo! O Desafio espalhou-se por toda parte para lembrarmos as conquistas passadas e vindouras. Mais, o desbravamento impetrado nos primeiros passos da longa distância. Bom, retomando a peleja (risos). Há tempos a bicicleta vem sendo parte íntima do meu dia a dia. Dessa maneira, o feriado prolongado deu trégua ao corpo porque sabia do desgaste e esforço em demasia. Sim! Esforço em excesso, pois cada semana na lida representa mais de 600 km rodados pelas ruas da cidade de sorriso abotoado. Pra somar e incrementar o combate, o jejum infligido pela pandemia do vírus moderno, cancelou quase duas temporadas. Isso afeta e muito o desenrolar do desafio e, por mais experiência adquirida à ansiedade reina absoluta. A sexta-feira teve algumas entregas e procurei encerrar mais cedo o expediente. Retornando ao lar perto das duas horas da vespertina irrequieta, dei os ajustes finais na minha preciosa neguinha e deitei. Contudo, um turbilhão de pensamentos sondava a mente inquietante. Parecia até a primeira vez na estrada (risos) e, as bolsas já abarrotadas a visão turva achava mais e mais espaços. Por fim, teimei em manter um jogo de pneus com mais de cinco mil quilômetros rodados. Sabia que o preço pela decisão seria alto. Mas, em tempos de crise, reativar o solado do sapato acabado é religião! Tudo checado e rechecado. Alimentação na bagagem nos moldes do “Ciclismo de Resistência” conquistado a muito custo e mantido a sete chaves o segredo, partiu Lapa. No entanto, a expiação era maior que os seiscentos mil quilômetros já superados nas vias urbanas impacientes e estradas brasilianas insidiosas. Mais uma noite em claro (risos) partiu encontrar o camarada Wandeco. Esse dispensa apresentações pelos feitos alcançados na longa distância. Adicionando a simpatia e carisma como ser humano ímpar. Em tempos de pandemia esse detalhe é muito relevante porque muitas pessoas revelaram o que realmente são. Bom, após todo esse devaneio o sinal de largada fora acionado. Vencido os paralelos históricos lapianos logo o trecho da estrada estadual que liga a Lapa a Porto Amazonas, entrava em ação.

A previsão das intempéries ditava tempo seco, mas em se tratando de desafios na Lapa, em vinte minutos tudo pode mudar (risos). Recapeamento de pista e castramento do acostamento escasso dificultavam a vida do veterano. Digo isso, porque o tempo em demasia longe da minha musa cobrava o seu preço. Equilíbrio afetado, piorava com a passagem dos mamutes mecanizados e nervosos pela estrada de pista simples. Pouco antes de Porto Amazonas, o cheiro da mata queimada e caspelada, assombravam a minha visão. No último desafio naquelas paragens era vista com alegria e o cheiro de eucalipto inebriava os pulmões. Esse é o preço daquilo que é ofertado, por aquilo que é arrancado e violado na sua essência!. Bom, partiu PC 01 em Witmarsum. Antes das nove da manhã do sábado repleto de surpresas, cheguei, e, receoso com o acesso no retorno a BR 277 sentido Curitiba, notava que o calçado da minha musa grudava mais ainda ela ao chão, conforme o asfalto rugoso se prolongava. Que dureza! Duas noites mal dormidas, acrescido de sensação de pneu mirro, era chegada a vez das articulações cobrarem o seu quinhão. Menos de 100 km conquistados. Mais chances prosperavam para perturbar a mente e validar a desistência. Contudo, a condição abrumada do tempo deu novo alento! Em frente “Resistente”! Vencida a desmedida subida em terceira faixa no Recanto dos Papagaios, o pequeno trecho após o Posto Spréa quase virou tragédia. Vencido o entrave dos veículos que detestam ciclistas e mais ainda (risos) na estrada, finalizo os pensamentos que nada prospera para evoluir os espaços de direito nas vias. Na verdade, estrangulam e estreitam mais e mais, infelizmente. O acesso ao pedágio em São Luis do Purunã também balizaram o estratagema por lá. Ao término da descida da serra a rota mantinha o desenho para continuar pelo desvio do centro de Campo Largo e, mais um espanto quando me deparei com uma espécie de “dente” no acostamento empurrando para pista. Logo, a bucólica estrada de Bateias era conquistada. Trecho com ares europeus ateava com potência, em plena reta dos ventos uivantes, antes da serrinha. Metade da peleia ganha, mas o corpo gritando para cessar imediatamente a loucura. A teimosia talvez fosse maior que o orgulho, ou, vice-versa (risos). Bora em frente “Resistente”! Superado o PC 02 próximo ao famoso KM 25 (só quem pedala por lá sabe (risos)) o céu timidamente começou a chorar. Pensei: – Ô, sina miserável! Lá vem a chuva... Era o tal irriga truão em ação. Teimei e prosperei até a chegada do PC 03. Mas aumentou em excesso junto com o sopro potente de Santa Butiatuvinha.

Quase tombei no asfalto e de repente feito encanto de fada, o zéfiro limpou o céu e desabrochou o sol escondido no empíreo. Era um estro parnasiano, só podia ser! Os espíritos dos antepassados entravavam em ação e, da li pra frente, o alento perfeito pra findar o desafio. Será (risos)? Trecho urbano superado, novamente as rodovias, no caso, o contorno sul e sua peculiar sujidade no acostamento, somados os acessos diminutos aos bairros da região, ativavam o cuidado redobrado. Passado mais esse entrave, o relógio ininterrupto do escasso tempo nessa existência, determinava o início da vespertina. Aumentar o ritmo, focar na estrada logo a BR 476 entrava em ação. As dores, câimbras e demais mazelas do desgaste descomunal abriam portas para as dúvidas e aumentavam a distância. PC 04 no quilômetro 158 conquistado às quinze horas e vinte minutos e menos de quarenta quilômetros onde tudo começou. Mais de quatro horas era tempo de sobra, mas não perante a ansiedade. Alimentação rápida, checagem de tudo, partiu estrada novamente. Já na região de Mariental o avantesma do furo assombrava a mente. Passei em cima de um fragmento de pneu e a visão teimava em avistar uma farpa espetada. Que luta! Parar e verificar ou seguir em frente? Justamente em pleno trecho de elevação em terceira faixa. Deixei rolar. Sabia que se parasse talvez na minha doidice o furo prosperasse (risos). Que TOC filha da puta bem naquele instante (risos). Mas, venci o moribundo e às dezessete horas o pedágio da Lapa fora conquistado. Curvas rápidas e descida acentuada, o cuidado mais que redobrado era acrescido. Parada rápida para fotos, mais a frente onde fora a largada mudava de nome e agora era chamada com muito orgulho de “Chegada”. Recepção majestosa dos anfitriões recheada de sorrisos e iguarias, sentia que o espírito errante serenava. Desafio conquistado. Parabéns a todos os envolvidos e um muito obrigado por tudo.

Adendo: Anderson Oliveira não faz mais parte da equipe “Ciclismo de Resistência”. Segue juntamente com Renato Muller organizando as atividades no Clube Audax CWB. Vida longa ao clube.


Com o advento da pandemia José Assumpção Coordenador e responsável pela equipe “Ciclismo de Resistência” informa que:

- de momento encerramos nossas atividades nos desafios de longa distância e no próximo calendário se assim Deus nos permitir, os novos apoiadores e patrocinadores serão anunciados e, igualmente as mudanças em nosso uniforme. Agradecemos de coração Deus e família primeiramente e a todos os nossos seguidores e apoiadores.

Fiquem, bem...

Créditos fotos: Dilamar Lewiski (Presidente Randonneurs Lapa) e Wanderley Alves

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