BRM DA ESPERANÇA - Resistentes



O famoso lugar-comum: “Ontem se sucedeu o BRM” abriu espaço hoje a, ontem se sucedeu a visita. Sim! Uma visita de pedal há tempos planejada, mas resgatar forças para o feito não era tarefa fácil. Pessoal que acompanha a página dos Resistentes deve ter notado a ausência das letras por aqui. Já que os desafios de longa distância brecaram, por enquanto. Bom, sem muitas procrastinas Vinicius Zwierzchaczewski (Vini Bugrada) atualmente luta contra a tetraplegia. Recordar o momento do acidente é muito sofrido. Assim, deixarei links no final do texto auxiliando na pesquisa. Enfim, o último sábado de 2022 o ritmo das entregas acalmou. Então, capinei as teias de aranha no Strava e mapeei a rota até a casa dos Zwierzchaczewski. Não sou contaminado pelo exagero de publicações neste aplicativo, mas precisava registrar esse momento. Após as atualizações necessárias cliquei e, a tela do celular mostrou o trajeto  Pedal Visita ao Vini. Para quem já ultrapassou tantas paragens pelas estradas invisíveis do espírito randoneiro, a meta seria fácil. Será? Bom, hoje a estimada guerreira “Neguinha” acumula poeira, deixa estórias em cada risco, barro e hibisco em seu quadro imutável porque a pedalada carece de maior atenção. Percorrer os trechos urbanos na terra de pouco pinhão nunca foi e é tarefa simples!Assim, outra musa entrou em ação, a Tita. Celular conectado, aplicativo ativado, bora seguir em frente. Rompendo as cercanias do meu Pilarzito querido, logo alcançava a rotatória na Rua São Salvador. A ideia inserida na mente determinava seguir pela Rodovia dos Minérios, mas há obras perenes por lá e o percurso mudou. O jeito então seguir via Wadislau Bugalski. O impacto dos remendos no pavimento em breve seria sentido, mas, a via fora restaurada e acelerou a descida. Via sinuosa e estreita, cautela ao máximo. Lembrei-me dos pedais até Bocaiuva do Sul, Tunas e Adrianópolis. A lembrança do guerreiro “Bugrada” também. Tristeza tomou conta.

Poucos quilômetros percorridos e a sensação eram de um BRM 300 em andamento. A mente jogava suas ciladas para efetivar a desistência. Ao término da descida a ponte que divide os municípios e em Almirante Tamandaré, cheguei. Todavia, metade apenas do trajeto. Sabia igualmente da falta de conservação dali para frente. Novamente fui surpreendido pela ótima condição do asfalto, mas o longo trecho alcantilado drenava as forças do veterano. Lembrei-me do cimentão! A dor avassalante apertou ainda mais o peito calejado, pois o guerreiro “Bugrada” não saía da alma. Entre um esforço e outro a trincheira do contorno norte era superada. Parei, suspirei e apaziguei as lágrimas. Tinha que chegar ao destino com o semblante alegre, mesmo perante tanta angústia.   Poucos metros de falso plano e mais uma descida sinuosa deparei-me. A via Wadislau Bugalski está sublime, no entanto, sentia que o galgar do “Bugrada” deixou seu suor penetrar no asfalto. Lá é seu território! Lá durante a noite ou na antemanhã de tempo bom ou ruim, a sincronia de suas pernas a cada passada do pedivela, era seu treino inflamado em busca de sonhos. Ufa! O pensamento continuava birrento para retornar, abandonar a visita. Naquele instante o BRM 600 e a visão da entrada em Morretes ao término da peleja surgiram, e, iludiram a indecisão. Parei novamente. Manejei o celular e, encurtei o trecho de chegada. Mas, o território dos Zwierzchaczewski é impiedoso. Logo me deparava com outra muralha e, a visão da memória reproduzia a pedalada cavalar até Cerro Azul. Sobrepujado o obstáculo dobrei a direita e alguns metros à frente à esquerda, o destino. O silêncio se apossou. Parecia a decisão no BRM 1000 da Lapa em seguir em frente ou não. Segui. Bati palmas e o anfitrião apareceu. Tentei de todas as formas achar algum assunto nas palavras e, enganar o momento. Mas, a realidade é dura! Todavia, cumprimentei o amigo irmão para fortalecer a entrada no quarto do Vini e, entre um passo e outro desacelerado, logo a dura visão resgatava os tempos trabalhados em hospital. Sempre soube. Nunca me enganei com isso. Porque é sempre mais dolorido observar uma pessoa acamada quando é mais próxima da gente. Contudo, não nos deixa mais insensíveis perante tanta dor em cada dia de batalha em ambiente hospitalar. Respirei fundo e, a passos arrastados, mas muito pausados adentrava no quarto. Engoli todas as lágrimas. Reforcei o semblante para retirar alegria do coração e cumprimentar o guerreiro. A minha idade e falta de noção incentivaram a mão para cumprimentá-lo. Aquilo para mim parecia natural! Foi espontâneo, mas todos os membros tanto superiores como inferiores dele seguem em letargia. Sentei ao seu lado, então. Puxei algumas palavras e tinha a sensação que o tempo parou. De repente, o silêncio de ambas as partes sumiu e a fala dele seguiu freneticamente pelo quarto. É indescritível minudenciar esse instante porque o Vini passou por diversos procedimentos de atendimento durante o internamento. Hoje, o local da traqueostomia está cicatrizando, porém, aquele barulho é assustador. Torno a enfatizar: é sempre mais dolorido observar quando a pessoa é mais próxima da gente. Naquele momento parecia escutar os alarmes das máquinas de UTI quando minha filha esteve assistida após o nascimento. Ufa! Nossa existência é sempre frágil. Vivemos e devemos por obrigação acariciar cada instante de vida e saúde, porque a outra face dessa estória é dura por demais. Então, o guerreiro rompeu o silêncio e falou. Falou em detalhes e lucidez as etapas superadas em ambiente hospitalar. As etapas doloridas. As presenças da família hoje seu alicerce e, de amigos e mais amigos presentes mais ainda nessa batalha. Deixei sua fala seguir sem interrupção. Sentia que ele precisava daquele instante. 

O tempo travou novamente. Parecia que estava comigo durante a travessia do BRM 1000 CWB na subida da serra em plena madrugada de chuva, frio e medo. Parecia também presente nas quedas em diversas estradas errantes, onde as fraturas e dores superadas deixaram uma porção de suor e lágrimas por lá. Sua voz ecoou no espaço! No término peguei em sua mão. Com as duas mãos apertaram a sua. Senti adrenalina correndo e calor. Era chegado o momento de ir embora. Resmunguei algumas palavras e seu olhar então mirou o meu. O recado da esperança mesmo longínqua ficou e, sai aliviado. Respirei profundamente na saída e, a mente delineou: É nos instantes mais duros que sabemos quem realmente está ao nosso lado. De nada adianta rir quando tudo se assemelha a uma paisagem bonita dum campo repleto de flores! Pois a realidade derruba velozmente e inexorável à bela arte, depois dos entraves traiçoeiros e rapinantes. Bom, após isso era chegada a hora de escutar meu irmão de coração. Sentir o desabafo do pai e alicerce da casa já na saída, e, eu conectado na magrela. Escutei palavras de determinação. Palavras que sempre carrego quando inicio uma batalha na estrada e até mesmo no dia a dia das entregas. Palavras potentes! Palavras que devem ser abancadas a frente de tudo sem medo. Enfim, estava finalizada a visita e após escalar e transpor a dura elevação da Wadislau Bugalski no retorno, percebia que: o BRM da esperança é uma estrada infinita, mas repleta de provações. Força sempre “Bugrada” .

Observação:  quer descobrir o porque do apelido “Bugrada”? Fica para próxima visita (risos).

Abaixo seguem os links para acompanharem a trajetória e também contribuir com a rifa virtual em prol da recuperação do Vini.

Obrigado irmandade “Randonneurs”

https://docs.google.com/.../1ybokNLPguKBrpGp3Jai.../htmlview

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