BRM 300 km - CWB/Tibagi/CWB

O pedal do “Andarilho”.
Em 14/03/2020 sucedeu mais um BRM 300 km (CWB/Tibagi/CWB) organizado pelo Clube Audax CWB e, com o realce na data (risos) catorze guerreiros e irmãos “Randonneurs” largaram pontualmente, às 6 horas da matutina de sábado. Mais o Power Trio dos Resistentes incutidos (risos), Anderson Oliveira “O Capitão”, Isaías Domingues “O The Flash” e José Assumpção “O Veterano”. Local, o tradicional apogeu acolhedor dos amantes da longa distância! A Pizzaria Altas Horas do amigo Adão Pereira. Muitos amigos presentes, muitos cumprimentos e abraços, bora para o discurso efusivo e protetor do Presidente Cícero Brito. Já é de praxe todo o cuidado e zelo nas palavras, mais o desejo que tudo ocorra bem. Esse é o diferencial para enfrentar cada batalha, cada luta e peleja, pois, apesar do clima afortunado sem gotas de garoa ao menos (risos) o sol racharia firme, em breve. Conectei o pedal na minha companheira fiel e, durante o embalo em busca de superar os Alpes dos Siqueira no bairro Bigorrilho, certa ansiedade rondou a mente do veterano. Tantos feitos, tantas derrotas e, lutas, algo mágico e inovador me aguardavam mais a frente. Não sabia identificar a energia, contudo, sabia que seria importante. Enfim, sobe e desce breves da Rua Padre Anchieta, logo contornamos à esquerda a Rua Capitão Souza Franco. A serena manhã seguida de fluxo quase zero de carros, fez com que todo o trecho urbano fosse apreciado de forma diferente. É praticamente impossível trafegar nessas vias nos dias normais, de bicicleta. Ah, quase me esqueço (risos) houve uma mudança em relação ao BRM anterior e, esse toque magnífico prosperou para apimentar mais ainda o desafio. Dessa vez seguiríamos pela famosa Estrada do Cerne, mas para isso, o primeiro passo vencer o trecho longo urbano. Sobrepujado o Bairro Bigorrilho, a nova conexão nos presenteava com o pavimento novo da Av. Manoel Ribas. Excelente trecho de mais ou menos 9 km até o acesso a PR 090. O frescor da manhã impulsionava o ânimo, embalava as pernas e mantinha a cabeça ventilada (risos). Nesse momento o tobogã de acesso à rodovia estadual aquecia as pernas. Pessoal da leitura (risos) nem esquentem muito (risos) a palavra aquecer fará repetição ativa e permanente no decorrer do texto (risos) não sei o porquê (risos). Bom, são os primeiros instantes para matar a saudade da Estrada do Cerne. Há tempos não percorria e, estava curioso para saber se a boa condição do asfalto prevalecia. Durante os 20 km tudo em ordem e, o aquecimento prévio ajudou no trecho de subida após o distrito de Bateias, já em Campo Largo. Lá houve recapagem do piso, auxiliando superar a elevação. O relógio indicava quase oito da manhã e o corpo aquecia silenciosamente em meio à neblina densa em alguns momentos. O percurso em rodovia estadual sobresteve. Era chegada a hora de bater a BR 277 sentido norte do Paraná. Trechos sujos, saliências e mais alguma armadilha na espreita, poucos quilômetros nos separavam para alcançar o caixote pouco antes do pedágio. Tenso! E piorava devido ao grande fluxo de mamutes motorizados, um a um, aguardando para dar o bote. Perto das nove horas, o primeiro posto de controle fora usurpado. A previsão encalorada do sol a oferecer boas vindas, mexeu na minha estratégia e mente. Seria possível chegar a Ponta Grossa somente com duas bananas e 500 ml de água na caramaiola? Tirei uma foto do PC sem desconectar da neguinha e desci a lenha (risos). Pouco a frente depois do Pedágio em Witmarsum, a cabeça sentia a potência do sol em ação. Uma dúvida se alojou ferozmente: Será que tática foi à correta? O medo maior não era à distância, mas sim o sol aumentando os graus de pujança. De repente perto do Km 535, ao longe um andante firme na passada, eu alcancei. Minha mente entrou em estado de revolução.
Cara, o sujeito está isolado de tudo e a pé para ajudar na empreitada. Vou direto até o Pão de Queijo, eu consigo! O calor aumentava rapidamente e um, mais um e outro andante eu encontrava. O último foi uma tremenda dificuldade para ultrapassar (risos) porque era trecho de velocidade e estava bem no meio do acostamento. Um movimento diferente da magrela, faria com que ele mudasse o caminho devido a minha presença. Ufa! Foi, e, num rápido cumprimento de ambas as partes a minha mente reorganizou as metas. A velocidade somava a angústia de chegar logo. No entanto, a placa mais temida era avistada: Obras na pista. Que dureza, justamente no melhor da festa, tive que esperar mais de quinze minutos para conseguir ultrapassar o obstáculo. O sol a pino massacrava o capacete, fervia minhas vestimentas e assava a sapatilha. O suor virou rio. Tive que descontinuar a missão e focar na parada. O Posto Trevo era apossado às 10h30min. Não sentia fome, porém, era necessário armazenar o máximo possível de líquidos no organismo, para suprir o curso do meu rio, ambulante. Até então, mesmo com a grande circulação da manada de mamutes motorizados, o percurso seguia firme. Todavia, os acessos, os viadutos da parte industrial na cidade de Ponta Grossa, espreitavam estratagemas cavilosos. Longo trecho em aclive, somado a péssima condição do acostamento e, inexistente porque é terceira faixa, inacreditável que, um mamute desgarrado passou a poucos centímetros. Havia três pistas totalmente livres, mas o sabor de sacanear com outrem, sempre impera nesses instantes. Essa avenida já é famosa pelo grau de dificuldade com veículos. E, muitos amantes do pedal na região, utilizam. Então por que essa atitude? Pergunta sem resposta, logo o deleite de sorver com alegria a BR 376 e a poucos quilômetros do PC, eram avistados. Um espetáculo de pavimento, acostamento e, imagens da região incríveis, declinavam a atenção da mente para superar o forno natural estabelecido a céu aberto. Sensação de cinquenta graus ou mais, depois da uma da tarde o pão de queijo era o Oásis mais desejado sem dúvida alguma (risos) e repleto de abastança. A ansiedade ainda reinava. Tinha tempo de sobra para fechar o desafio, mas a inquietação superava tudo. Fui ao banheiro, encharquei todas as partes possíveis para refrigerar o corpo extenuado. Olhei no espelho. A face estava péssima. Via no reflexo minha alma guerreira e espírito indomável queimarem feito brasa. Então respirei fundo. Lembrei-me dos andarilhos. Como estariam diante de tal condição infernal em plena estrada desértica? Desprovidos de água e alimentos? E eu ali, com fonte de recursos e longa experiência nas adversidades da estrada, sofrendo com ansiedade?Foi o elixir salvador. Respirei fundo novamente. Reorganizei as metas e, entrei para suprir o corpo. Fome não sentia, porém, alguma coisa tinha que comer. A gula maior foi em busca de líquidos. Tudo suprido bora retornar ao lar, bora fechar o BRM da temperatura infernal (risos). Duas da tarde a saída do pão de queijo fora diferente. Sepultei a ansiedade. Mas as dores nas articulações prevaleciam. Esse é o preço devido a precariedade do pavimento. Sobe e desce, porém, mais calmo. Logo o tormento da parte industrial em Ponta Grossa o retorno à guerra. Acessos rápidos após os viadutos o drama e, na primeira descida para alcançar novamente o posto Trevo, um veículo de pequeno porte tinha total visão do ciclista, contudo, fez questão de passar a poucos milímetros. Esse embate nas vias é ancestral. Penso que um dia terá fim, mas vejo que o fim mais próximo infelizmente é colidir com o ciclista e proferir a estupenda frase: Sai fora, cara! Aqui não é lugar de bicicleta. Nesse momento alcancei o “The Flash”. Seguimos durante um longo trecho juntos porque via que o calor também o afetara. Somente assim (risos) para conseguir tal feito. É impossível acompanhar o sem treinos (risos). Da mesma maneira nas paradas para suprir a caramaiola os demais guerreiros eram alcançados, contudo, (risos) somente alcançados.
Todos estavam ansiosos, eu sentia isso. Queriam se livrar do calor e retornar ao lar o quanto antes. Enfim, quase se despedindo de Ponta Grossa, minha câmara não aguentou o calor extremo e explodiu em plena descida a quase 60 km/h. Na parada o Isa retornou e mostrou sem pneu bem dizer dizimado pela intempérie asfáltica abrasiva. Na hora não pensei duas vezes e repassei o meu pneu reserva para efetuar a troca. Algo sussurrava em meu ouvido para evitar dano vindouro e grave. No entanto, o sol mastigando mais e mais, drenava sem limites o suor do corpo. O novo Oásis a ser focado e almejado chamava se: Posto Tibagi. Galgar as belezas de Vila Velha nunca foi tão custoso. Mesmo apreciando a rica paisagem rochosa, a mente não era enganada facilmente. Uma placa indicava seis quilômetros até o posto, por outro lado, pareciam seiscentos quilômetros (risos). Ufa! Chegamos. Boa parte da turma dos sem treinos ali presentes (risos) e prontos para saírem. Todavia, mesmo saindo pouco antes das cinco e trinta, o sol famigerado reinava. Clipado e pronto, o ritmo estava revigorado e, a mente focada em seguir direto até a chegada, sem mais paradas programadas, somente desprogramadas (risos). Trecho de velocidade, esqueci-me do drama da descida logo após o posto, onde os mamutes desgovernados, adoram estraçalhar sem piedade. Cara, que sensação lazarenta! Um turbilhão de sons em meio ao funil arquitetado, o satânico motorista me comprimiu entre a mureta e o acostamento. Em último caso desesperado se jogar da ponte e mergulhar no leito espesso do Tibagi. Foram bem dizer segundos intermináveis do rodado a poucos milímetros da minha neguinha e minha coxa. Um berro uníssono ecoou pelo planalto elogiando a mãe do infeliz (risos). Como se fizesse alguma diferença. Bom, não há reação! Estamos sempre a mercê das variáveis. Seja o tempo, seja o pavimento, seja a nossa condição física, espiritual, seja o comportamento ao volante de outrem, essas são as variáveis. Se és “Randonneurs”! És sobrevivente. És herói e carrasco do seu destino. Passado mais um entrave às forças retornaram em abundância e, tentando dentro do possível acompanhar o “The Flash”, o sol se despedia no poente e, um baita trecho fora superado. A placa indicava Curitiba a menos de 50 quilômetros. E o “The Flash” ou o pequeno ponto a minha frente da sua presença (risos) a mais ou menos uns cinco quilômetros (risos). Desafio é desafio e o ritmo de cada um só pertence a cada um. O fantasma do imprevisível assombrava novamente e, logo à frente encontrei novamente o primeiro andarilho. Montava sua dormida e todos os seus apetrechos inseparáveis, eu obervava atento à importância de cada um. Carregar toda aquela parafernália com chuva, sol ou sem ambos, determina a sua sobrevivência em cada paragem. Mais uma lição importante, mais um aprendizado na estrada. Bom, a sujeira do acostamento estava na espreita devido ao reinar da noite. Mesmo com iluminação potente, é impossível a reação. Porém, o conhecimento do local propiciou cuidado e zelo e o ritmo diminuiu. Perto das vinte horas o Pedágio em São Luis do Purunã era vencido. Sentei no famoso ponto de ônibus logo à frente, tomei a água restante e desci a serra a pedal de lesma. O módulo preservador fora ativado (alusão ao módulo zumbi do Isa (risos)). Bem dizer desci a serra a menos de 15 km/h. Quase carreguei no colo a minha neguinha (risos). Naquele instante a mente perturba mais e mais, pois a distância diminui. Sobe, desce, aumenta o ritmo, diminui o ritmo. Tenta achar uma posição mais confortável, pedala em pé. Enfim, (risos) tentar achar de todas as formas uma solução para o desgaste físico e no final tudo é em vão (risos). Somente a força de vontade supera, as lembranças que ficaram para trás, os ensinamentos e a saudade da família, alentam o seu ritmo. Pouco antes das vinte e uma horas, e pulando um monte de detalhes (risos) para não distender em demasia a prosa, o Parque Barigui e a cidade sem sorriso eram conquistados. Poucos metros da chegada, e tempo de sobra, sentei no acostamento. Precisava daquele momento de explanação para a alma. Saborear aquela visão única da noite curitibana, na lente potente do olhar de um ciclista de estrada. Sentir o pungir dos flagelos que trazem a ansiedade e, redescobrir que a pressa, em muitos casos, nos deixam mais vulneráveis ao erro e, descobertos da razão em alguns, momentos. Parabéns a todos os guerreiros, vida longa Clube Audax CWB. Vida longa “RESISTEEENNTES”.
Agradecimentos:
Primeiramente a Deus e a nossa família pelo apoio.
Patrocinadores e apoiadores:
Sergio Ricardo Reis da www.tecnocicles.com.br
Cicero Brito da Virtus Cycle Sport uniformes ciclismo
Cleidson Mendes dos Santos Copenhague Esquadrias de Alumínio.
Mazé Fontoura da Alpha Dog Clínica Veterinária.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CATIVAR