A CONQUISTA DO QUARTO DÍGITO

Equipe Ciclismo de Resistência conclui o BRM 1000 km organizado pelo “Clube Audax CWB. #ciclismoderesistencia
O tão desejado quarto dígito e mirado pelos amantes da longa distância é conquistado. Todavia, antes de todos os rituais iniciais (risos) é importante e muito importante, destacar o empenho e dedicação do Clube Audax CWB. O ato de preparar, organizar, zelar, torcer e temer, aceira, em demasia, em cada quilômetro angustiante para os organizadores do evento. É certo que estão presentes a todo instante porque aqui é assim! Portanto e, de coração, a Equipe Ciclismo de Resistência parabeniza Cícero Brito (Presidente do Clube Audax CWB), Burg Júnior, Fábio Scuissiato e os demais que, mantém viva a paixão pela longa distância a cada evento. Somos muito gratos por tudo. Bom, segue lá o tradicional clichê (risos). Em 25/09/19 sucedeu o primeiro BRM 1000 km organizado pelo Clube Audax CWB e, feito criança de colo, todo cuidado e zelo superou os limites. É marca registrada de Cícero Brito e sua equipe e, assim, mais de dezoito “Guerreiros Randonneurs” largaram em busca do imprevisível. O local, a Pizzaria Altas Horas do amigo Adão Pereira, pouco a pouco, vem se tornando o apogeu dos amantes da longa distância e, pontualmente às seis horas da manhã imparcial de quinta-feira seguiram firmes: Robson Francisco Bodner, Emanuel Lima, Wanderlei Alves, Pedro Adolfo Junior, Edenilson Mei, Luiz Venancio, Neures Ligeski, Odenilson Fagundes, Cristiano Oliveira, Joaquim Machado, Rafael Gussuli, Johny Machado, Daniel Fehrmann, Tomas Tapia e Renato Muler. Lógico que, o “Power Trio dos Resistentes” não poderia deixar de lado o chamado costumeiro e, Anderson Oliveira (o capitão), Isaías Domingues ( The Flash) e José Assumpção (o veterano) lá estavam. Abdicar dos afazeres habituais e dizer adeus provisório a família é o primeiro passo para impulsionar o movimento central da magrela. Após isso, o inesperado segue artimanhoso e malandro em cada esquina e acesso de via nas estradas implacáveis desse país. Iniciado o discurso protetor do Presidente, bora caçar o “quarto dígito”. Informações precisas e boas palavras de incentivo, logo a famosa Rua Padre Anchieta no Bairro Bigorrilho ficava para traz. Superar a cidade de sorriso fechado seria primordial o quanto antes e, após inúmeros semáforos, cruzamentos, faixas de pedestres, locais de grande fluxo de pessoas e, veículos é claro (risos), os “Gigantes das Estradas” impulsionados pelas suas donzelas de duas rodas, penetravam na BR 277. Todo cuidado com os acessos e saídas das vias a peça chave e serviu de base para construir a vitória dos guerreiros a cada centímetro preciosíssimo desse BRM, maiúsculo.
Após cruzarmos a famosa ponte do poluído Rio Iguaçu no limite dos municípios de Curitiba e São José dos Pinhais, fiquei em dúvida: Será que realmente São Paulo é a terra da garoa (risos)? É religião a garoa fina e espessa nas bandas de São José dos Pinhais e prevaleceu firme e forte até o pedágio. Mas, tudo conspirava a favor e, a temida descida da Serra o tempo aberto deu alívio momentâneo deixando o acostamento seco. Por outro lado, em relatos anteriores, a condição do acostamento péssimo irritava por demais e, incrivelmente, toda pista até o acesso a Praia de Leste estava uma pintura. Agrado em demasia o santo desconfia (risos) seria a rima imperfeita em terras catarinenses. Por lá o acostamento sujo, rugoso e cheio de saliências acabava com as articulações. Contudo, voltamos à descida da Serra. O fluxo era apenas de caminhões. É nesse instante que percebo o quão precioso é a presença desse parceiro fiel. Ele nunca te deixa na mão e está presente e rente a você caso beire o acostamento (risos) deixando o recado para ficar alerta, sempre. Por outro lado, o ritmo era tão forte que pouco antes das dez horas da manhã o Posto Paris em Praia de Leste fora conquistado (102 km). A condição do tempo sem chuva, sem a presença do sol e, vento paranaense em pleno silêncio (risos) proporcionou esse feito. Bom, até Garuva, nuvens gris, chuviscos esparsos e sensação térmica inigualável, afastavam os amantes das praias, mas não os ciclistas errantes. Próxima parada: PC2 no trevo em Garuva. Mais de 168 km superados e, se algum arrependimento ou mudança de planos fosse necessário, ali era o momento. No entanto, quem seria louco o suficiente para desistir? Deixar o sonho acabar? Travar o alento incessante que gira as pernas e bombeia sangue invisível ao coração ciclístico? Bora fechar esse troço, cambada (risos). Dezoito guerreiros na ativa, dezoito apaixonados pela longa distância, dezoito cabeças para que a organização, de alguma forma, mapeasse passo a passo o andamento das carruagens elegantes dos desbravadores de duas rodas das estradas. Enfim, as terras catarinenses eram o novo retrato da situação atual e, o próximo PC (posto de controle) na Pousada Catarina em Biguaçu/SC, o fechamento de um BRM clássico de 300 km. Nesse instante é relevante a divisão da narrativa para aprofundar a peleja e destacar os ricos momentos. Contudo, na somatória dos mil quilômetros, havíamos percorrido mais de quarenta cidades e balneários. Dentre elas: Garuva, Joinville, Piçarras, Navegantes, Florianópolis, Itajaí, Paulo Lopes, Laguna, Tubarão e tantas outras que a pronuncia é puro trava-línguas, deixavam uma mistura de saudade e conquista no ar.
Estradas Catarinenses
Não é novidade alguma que, o Randonneurs não é bem vindo às estradas. Não há interesse econômico. Quem irá lucrar nas praças de pedágio com o intruso boca livre? Enfim, bem dizer, até Camboriú, a condição do acostamento é um tormento. Melhora pouco e volta a piorar. Obras nas pistas aumentava o risco de colisão. Acessos rápidos morte certa aos desatentos e em Navegantes a tensão dava o primeiro sinal de alerta para superar a rodovia em obras, rapidamente. Passado o entrave, na conta mais de 500 km vibram o corpo extenuado, agitam a donzela possante e desgasta o maquinário precioso. Nesse instante, declaramos amor eterno à bicicleta. Você zela ao extremo para que tudo ocorra sem problemas, pois ela é a sua passagem de ida e volta. Então, a noite regia o agito de uma cidade e seu pós-trabalho. Todos angustiados para retornar ao lar e lá estavam os guerreiros em sua batalha pessoal. A madrugada anunciava a chegada e a decisão de fechar mais de 600 km até Tubarão e retornar a pousada, a meta. Sabia decisão do veterano para desbravar terras estrangeiras fez a mente revisar toda uma vida sobre duas rodas. Túneis, Morros e trechos que era visível o risco a vida, foram superados com alívio. Mas, e os outros irmãos? Cara, decisões em grupo quando o assunto é longa distância pode prejudicar o planejamento, acabar com o sonho da conquista e criar inimizades vindouras. Por isso, hombre (risos) quando o assunto é longa distância, faça você o seu planejamento, estude o percurso, crie e imagine todas as possibilidades mais idiotas e absurdas que possam aparecer porque elas irão aparecer (risos) e siga, principalmente, o teu ritmo. Sentia que precisava da solidão, escutar o silêncio da noite, acalmar os meus fantasmas e matar outros tantos. Diminui o ritmo. Redefini as metas e a incerteza começava a minar as forças porque a dor do corpo estava presente. A guerra da mente estava estabelecida e, ao retornar a pousada sentia que o sonho podia ser real.
Obras na Pista
Citei o trecho em Navegantes, mas uma rodovia com fluxo tão intenso de caminhões há depreciação rápida e o dinheiro do pedágio é necessário que apareça, mesmo de maneira ínfima (risos). Após Navegantes. A vez era de Camboriú e Itajaí darem o recado para tomar cuidado. No entanto, devido ao horário noturno, o fluxo de caminhões era quase zero e veículos de pequeno porte, também. Isso facilitou o trajeto. Um longo percurso em Camboriú notei quatro pistas e via que ali não era o meu lugar. Na marginal a situação não prosperava muito e o jeito, caso fosse em horário diurno, seguir a luta. Até superar todos os trechos e chegar novamente em Garuva, os mais de 829 km estariam concluídos. Daí meu amigo (risos) não há dor que pare, não há cansaço que vença e todas as setas indicando, Curitiba tantos km, Curitiba mais tantos Km (risos) grudam dentro do teu íntimo que inconscientemente você reprograma a tua mente a seguir, mesmo diante do desgaste extremo.
Túnel Morro do Boi
Que sensação bizarra ser engolido pelo Morro. Pode parecer um exagero, mas é bem isso. Lentamente a bicicleta segue em direção à boca do morro voraz e, devido à falta de ventilação a sensação de panela de pressão era intensa. Mais de 2 km de extensão e, caminhões mesmo em pequena quantidade, arrebentavam o tímpano com a sinfonia da destruição. Um barulho fantasmagórico acrescido de sensação de perseguição faziam com que o ritmo aumentasse (risos) e o aclive nem era percebido. Segui a faixa da esquerda porque o horário me permitia com segurança, caso contrário havia acesso lateral a ciclistas e pedestres. Nesses momentos testemunhamos a infinita capacidade humana para superar barreiras. Mais um espetáculo da engenharia com toda certeza e, lembrando (risos) na volta era nós de novo de frente ao faminto morro engolidor de carros e caminhões (risos).
Morro dos Cavalos
Com todo respeito aos indígenas, mas esse morro é um espetáculo em desafio de elevação, contudo, extremamente perigoso o trajeto. A terceira faixa extensa e inexistência de acostamento, deixa o ciclista a mercê do caminhoneiro. Novamente a sabia decisão devido ao horário, beneficiou a escalada, mas quem falou que a volta seria fácil (risos) ?
Laguna, a cidade dos filhos do vento
A madrugada dava adeus aos guerreiros randonneurs e oferecia espaço ao dia. Pontualmente às seis da manhã o vento que durante a noite e madrugada inebriava com seu frescor, agora dava vez à ventania incessante. Bem antes de Paulo Lopes até Tubarão, um trecho que na previsão seria rapidamente superado, comeu mais de oito horas de batalha em menos de 100 km. Trecho plano na sua maioria, a média dificilmente passava dos 12 km/h. A estratégia de aproveitar uma noite sem dormir apenas foi benéfica durante os trechos de obras e serras. Os filhos do vento entravam em ação. Superar esse entrave não foi tarefa fácil, porém, muito melhor o vento contra que lateral. Esse, por sua vez, esteve presente na travessia da Ponte Anita Garibaldi em Laguna. O vento extremamente forte juntou suas forças ao vácuo deixado pelos caminhões e a bicicleta era quase arremessada da ponte. Após as onze da manhã o PC 4 era conquistado e comemorado com muita alegria, 500 km vencidos.
Paulo Lopes e a queimada na beira da rodovia
Pouca atenção dá aos alertas para evitar queimadas na beira de rodovias e o transtorno causado. Perto das duas da tarde percebia ao longe nuvens de fumaça em grande quantidade. Seguia o meu ritmo e próximo da queimada achei que conseguiria superar o obstáculo. Contudo, o vento mudou a direção e a fumaça me engoliu literamente. Por sorte veículos e caminhões pararam. Tranquei a respiração. Pulei para outra pista e consegui me livrar do inferno branco. Que sensação terrível! A morte esteve bem perto e o final do desafio, também.

Florianópolis e o caos de um final de sexta feira
É incontável como os mais absurdos entraves aparecem, mas eles aparecem (risos). Jamais imaginava presenciar uma queimada daquelas proporções. Sempre vi isso em zonas rurais que é costumeiro o uso, por outro lado em larga escala em rodovia, nunca. Dessa maneira o estresse aumentou e muito. A poucos quilômetros da pousada novamente o Morro dos Cavalos era avistado. No entanto, agora o horário era outro e o fluxo gigante de caminhões dificultava a escalada. Tanta gente reclama dos caminhões na Serra da BR 277 aqui entre os municípios de Morretes e São José dos Pinhais, mas vai pras bandas de lá, hombre (risos)! Cara, que inferno. O esforço era gigante para superar o morro, mas após 600 km tudo se torna complicado para obter performance. O primeiro passou a quase dois palmos de distância. O outro freou e me pressionava buzinando incessantemente. Na verdade diversos caminhões seguiam dessa maneira e novamente a falta de acostamento e longo trecho de terceira faixa por sorte não virou tragédia. Zé, que folia é essa de sorte? Ora, voz interna lazarenta que me infernizava (risos) os ditos cujos buscam habilitação, mas depois que a carteira tá na mão o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) é rasgado. Passado o entrave no Morro dos Cavalos, a vez era superar os poucos quilômetros até a pousada. Menos de dez quilômetros vencidos em três horas de bicicleta. Sério (risos) não ria, por favor, estimado leitor (a). Mais de duas horas para conseguir trafegar pelo acostamento invadido literamente por veículos. Perto da saída 187 um veículo Peugeot de cor preta acelerou e colidiu com uma moto que estava a poucos metros de mim em pleno acostamento. Enfim, após as dezessete horas do dia 27/09/19 660 km estavam superados. Momento de descansar, replanejar e continuar a batalha. A mente me cobrava mais atenção. A saudade de casa aumentava. Esposa e filhos não saiam da cabeça. Mais uma guerra particular a ser vencida. Desistir?
O silêncio da noite e a paz de espírito
Mais de 24 horas de luta e desgastes, a bateria interna que rege os batimentos do coração guerreiro carecia de uma pausa. Replanejar, focar e triturar os fantasmas que rodeiam e enfraquecem o ser. Todavia, um dos fatores mais importantes entrava em ação: alimentação. Nunca citei em relatos anteriores e, dessa vez sofria com a má digestão. Optei por mais líquidos e zero de frituras. Surtiu efeito e melhorou um pouco, mas como superar os 400 km restantes sem proteínas? Bora dormir, ou tentar (risos). O repouso do corpo auxiliou na má digestão, no entanto, evitei, por mais de 80 km comer frituras. A retomada após o repouso foi essencial. Focar no ritmo reprogramado e evitar paradas curtas tentando rodar 80 km ininterruptos. Nesse instante voltei aos primórdios dos BRM e lembrei intensamente de um fragmento mágico do meu amigo Johny, citando em sua página no Facebook (sigam lá , vale a pena) a solidão profunda do “Guerreiro Randonneurs”. Percebia que precisava desse silêncio precioso, da paz de espírito e da calma para vencer o desafio. A luta e contemplação são sempre muito pessoais. Você deve seguir os teus instintos e lembrar que não há limites, porque só a mente arquiteta limites e os derruba mais rápido (risos) que a construção dos mesmos. Então, a BR 101 era só minha. Sentia-me extremamente egoísta saboreando cada fragmento de um pavimento que com toda certeza raramente retornaria a visitar, naquelas bandas. Ali o meu suor seria derramado, os meus medos sepultados, a minha luta, a minha história deixada para uma possível geração de guerreiros que pouco a pouco fenecem. Enfim, um pedaço da minha preciosa neguinha também, durante a deterioração do pneu, peças e outras partes da minha musa. Assim, segui em paz. A retomada do caminho consolidou a conquista do quarto dígito. Estava em paz. Estava feliz. Nem mesmo a dor infernal do corpo conseguia derrubar a meta. Corpo, espírito e alma eram agora, um só ser! Nascia o “Gigante das Estradas”, nascia um novo, ser.
Navegantes e as lágrimas da saudade
Ufa! A madrugada infinita me abandonava. Dizia um até breve e trazia o novo dia neutro e com ausência de sol. Com toda certeza esse fator foi primordial para auxiliar na conquista. Somente em Laguna apareceu os primeiros raios de sol e minou as forças. Imagine (risos) cruzar boa parte do litoral catarinense com o sol potente torrando (risos). Perto das oito da manhã estava em Navegantes. Optei seguir via marginal, pois a condição já citada do péssimo acostamento acabava com as articulações. Porém, me deparei com um baita retorno e num vai-e-vem acabei subindo a pé a via de acesso para pedestres. Perdi muito tempo? Sim. Valeu a pena? Lógico que sim (risos). Cara, até então havia feito poucos registros e durante a filmagem do acesso da BR 470 as lágrimas da saudade se apossaram. Lembrei intensamente da conquista do SR 2017 e do BRM 600 cruzando a temida BR 470 e suas retas infinitas. Jamais imaginara passar de bicicleta por aquelas bandas de novo. A saudade de casa aumentava mais e mais. Bora fechar o gigante, bora fazer história!
A vitória se aproxima, Garuva bem vinda novamente.
Até o Posto Sinuelo em Araquari, consegui bater a primeira meta. Percorrer mais de 80 km sem parar. Abastecimento obrigatório e hospitalidade nota mil dos funcionários me auxiliando, me bajulando (risos) e impressionados e duvidosos, ao mesmo tempo, de tamanha doidice, sentei e apreciei minha primeira fritura. O corpo pedia. Eu arriscava (risos). Terminei a refeição. Partiu Garuva. Contudo, durante alguns trechos fiz a inhaca de tirar a luva. O preço foi cobrado pelo erro e parte do apoio precioso dos punhos, no guidão, se associavam agora a imensa dor na região dos glúteos. Conviver com essa mazela faltando mais de 200 km à sina a seguir. Então, aumentei a altura do banco. Nossa! Que benção, no entanto, o joelho pedia parte do quinhão (risos) do Milão. Abaixar o banco novamente? Não resolvia mais porque pedalei muito tempo com a nova configuração. Toca o baile (risos). Comecei a olhar as placas de quilometragem da pista. Dos indicativos informando a distância de Curitiba e a famosa seta indicando. A lavagem cerebral funcionou e cheguei a Garuva nas últimas. Lembrei-me do amigo Luis “O Tresk” que me presenteou com um preparado fantástico e eu deixei na bolsa. Quando cheguei a Garuva e via a pessoa do Presidente do Clube, Cícero Brito, eu deveria ter beijado os seus pés, porque a minha bolsa estava em seu carro. Olha, hombre, se tem um cara que eu conheço nessa vida de Randonneurs e merece o meu maior respeito e admiração, é o Cícero. Não consigo expressar em palavras o carinho e dedicação aplicados em cada desafio. É algo que movimenta a todos e com toda certeza, em algum momento de desânimo, lembramos-nos dele para seguir em frente. Ele até brincou dizendo que a bolsa não estava lá, mas depois de perceber a minha face de dor, na hora entregou. Ufa! O quarto dígito estava salvo. Será (risos)? Vale ressaltar que a organização deixou à vontade a escolha da conclusão do desafio em Morretes ou Curitiba. Dessa maneira dos 18 guerreiros metade ficou em Morretes e a outra parte rumo a Curitiba. Nesse momento é essencial destacar o tamanho da conquista. Independe onde o desafio acaba, pois ele irá acabar. O que importa é a sua luta! O seu empenho. Você agora faz parte dos “Gigantes das Estradas”. Você carrega o precioso quarto dígito tatuado em seu coração e é fruto de muita dedicação e renúncia de instantes familiares para grande maioria. Comemores e muito!
A neblina mortal na Serra da 277
Fiz um prato de pedreiro de invejar a todos. Comi comida (risos), sim, comi comida de verdade (risos). Reprogramar, focar e lembrar que a serra me aguardava (risos). É incrível a dificuldade nos quilômetros finais. Tão próximos e tão distantes. Tão cobiçados e tão temidos. O descuido após a travessia do Ferry-boat acrescentou mais 10 quilômetros pra conta (risos) durante um erro infantil ao acesso a PR 412. Paciência, fazer o quê (risos). Dezessete horas cravadas estava de novo no Posto Paris e mais de quinze horas para fechar 100 km. Parece tempo de sobra, né (risos)! Mas, não. Terminei os últimos ajustes e calculei uma média de 20 km/h durante os 19 km até a BR 277. Todavia, a falta de vento contra e a condição do acostamento me provocavam (risos). Bora arregaçar a pista e deixar a minha neguinha se divertir um pouco (risos). Acho que menos de vinte minutos estava na 277. Morretes a 30 km a placa informava. Vai devagar, Zé! Há muito tempo, hombre. Ô, praga de voz interna (risos), vem encher o meu saco justamente agora (risos)! Deixa eu quieto, ô, sarna (risos). Caro leitor (a), pode parecer loucura, mas isso é fundamental para espantar o sono durante os desafios. Tua mente jamais pode hibernar em um desafio. Se entrar em stand-by o sono entra em ação. Adeus batalha! Adeus... Bom, vencido os 30 km até Morretes apenas a lanchonete famosa antes da subida estava prestes a fechar. Não sentia fome, porém, uma guloseima a mais é importante. Enfim, nove horas da noite iniciei a batalha da serra. Procurei aplicar menos esforço durante a primeira etapa, mas a neguinha deslizava no asfalto carinhosamente e uma fina garoa acariciava a face e o corpo extenuado. Oba! Será uma teta essa subida. Que engano. Pouco depois do SAU a garoa aumentou. As finas gotas ficaram mais intensas. No entanto, a ótima qualidade do nosso uniforme propiciava conforto durante essas etapas e, apenas me preocupei com celular e iluminação. Rapidamente aumentei o ritmo até o novo retorno para poder proteger o equipamento e optar pela capa de chuva ou não. Que decisão difícil! Encarar a neblina espessa? A chuva incessante? Esperava por isso em outro horário e não antes das dez da noite. Mas, quem falou que somos donos da condição do tempo (risos)? Pouco a pouco a neblina ficava mais espessa ainda e me engolia sem piedade. O fluxo de caminhões que achei cessar, não cessou, e, um a um gentilmente buzinavam após a ultrapassagem deixando um recado de boa sorte e alento. Sabia que o precipício do viaduto dos padres estava muito próximo, mas nem a mureta eu via. E, o barulho do companheiro fiel e inseparável (caminhão) me deixava em alerta para espantar o sono. Se a minha previsão estivesse correta, em relação ao fluxo zero de caminhões, com toda certeza a neblina da serra teria me engolido. Devo parte do desafio a eles! Mesmo em terras catarinenses. Eles me empurravam para mais próximo de casa e alertavam durante as saídas de pistas. São os donos das estradas! Forte abraço, amigo caminhoneiro. Bom, a única parada fora aquele retorno. Eu sabia que se tivesse que parar novamente a serra venceria a batalha. Comecei a berrar, cantar, xingar, execrar (risos) o desânimo e contar fielmente cada km superado. Após o viaduto do caruru as forças acabaram. Pouco a frente às paradas de ônibus me convidavam. Comecei a visualizar camas aconchegantes. Bati no rosto e a realidade voltava. Que batalha! Cancei de subir a serra em outras oportunidades, mas agora o cenário era outro. Superar e conquistar a última indicação do km 59 uma busca infinita, no entanto, crucial. O uniforme naquela altura estava ensopado, mas a temperatura do corpo não mudara mesmo nos trechos de velocidade. Fiquei impressionado! Parabéns Virtus Sport nosso apoiador e mentor do uniforme. Quilômetro 55 e uma dura decisão a ser tomada. Três lanternas e apenas uma funcionando. Entrar para pista nessas condições e aproveitar a velocidade da descida, ou manter se no acostamento? A única opção mais segura, por incrível que pareça era a pista. Arriscar o acostamento com iluminação precária seria muito pior. Ajeitei a marcha, então. Fiz os últimos ajustes na neguinha e pulei pra pista. Percebi o silêncio. Nada! Nem mesmo o piar da coruja e o coaxar das rãs estavam presentes. Era o sinal dos Deuses. Era o sinal de largada. Conectei com tamanha força na neguinha que parecia prova de circuito. Creio que passei dos 80 km/h. Pouco tempo depois as luzes do pedágio eram avistadas e a placa que informa os limites entre Morretes e São José dos Pinhais, determinavam o fim da neblina espessa e chuviscos. Que alegria chegar ao SAU. O relógio indicava meia-noite em ponto e menos de oito horas para superar 25 km. Caprichosamente (risos) não me aguentei e bisbilhotei o ciclocomputador. A marca de 85 km/h de velocidade máxima indicada e mais alguns pontos na habilitação de ciclista (risos). Nesses instantes é importante manter o bom humor porque a parada trouxe o frio. Achei que usaria pela primeira vez a manta térmica obrigatória nos desafios, no entanto, a capa de chuva foi o suficiente. Pedalar com a capa de chuva, mesmo uma distância tão curta, perde se muita energia e, a opção certa. Novamente tentei concentrar uma média de 20 km/h, contudo, a neguinha não deixava e também sentia muitas saudades do lar. A minha musa guerreira e companheira fiel carecia de descanso. Comportou-se com maestria e me levou e trouxe em segurança. O jeito então foi sucumbir a sua vontade (risos). BR 277 vencida, a parte urbana da cidade era contemplada. Fiquei espantado. A cidade toda iluminada. Há tempos não notava isso. Mais alguns acessos, ponto de parada: Pizzaria Altas Horas. Lá estava o Cícero. As forças sumiram. O motor interno desligou e quase tombei ali mesmo. Contudo, após o cumprimento e saudações pela conquista, tinha a certeza que o quarto dígito agora é real. Força, Resisteeeennntes (risos).
Agradecimentos:
Primeiramente a Deus e a nossa família pelo apoio.
Patrocinadores e apoiadores:
Sergio Ricardo Reis da www.tecnocicles.com.br
Cicero Brito da Virtus Cycle Sport uniformes ciclismo
Cleidson Mendes dos Santos Copenhague Esquadrias de Alumínio.
Mazé Fontoura da Alpha Dog Clínica Veterinária.

Vaaaaaaaaaaleu!!!

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