O PEDAL DO CAÇADOR

Equipe Ciclismo de Resistência conquista o Desafio Flèche Velócio 2019 e Anderson Oliveira de Souza comanda com maestria os Resistentes.#ciclismoderesistencia
O pedal do Caçador.
A semana que precede a Páscoa e, traz todo um significado especial para as famílias, também dá o ar da graça ao ciclismo de longa distância. É chegado o momento de testar os limites e caçar o tão cobiçado desafio “Flèche Velócio”. Sem estender muito o texto, compartilho o link para pesquisas e se inteirar, caro leitor (a) que nos acompanha para entender a magia e o significado desse desafio.
Segue: http://www.randonneursbrasil.org/regulamento-fleche-velocio/. Mas, enfim, cito o ato de caçar pouco acima. Por quê? Bom, cada parada programada é um tiro certeiro com a flecha durante a batalha. A caça de cada segmento é sagaz. Os ciclistas devem estar atentos a todo instante e, o pedal travado deve ser respeitado da mesma maneira que o ritmo, igualmente. Dessa maneira, as forças estão exteriorizadas ao extremo e a desistência bate a porta totalmente avassalante e sem piedade. É nesse minuto que a liderança entra em ação. O espírito guerreiro carece de acolhimento e a estratégia minuciosa o armamento precioso. Assim, com maestria os “Resistentes” foram guiados pelo nosso capitão, Anderson Oliveira durante a caçada. Cada momento eu presenciava com alegria a calma nas palavras, nas decisões e no encorajamento perante o flagelo da dor e da incerteza. E, dentro do limite estabelecido, lá estava a Equipe Ciclismo de Resistência com três ciclistas para encarar o feito. Anderson de Oliveira (Capitão da equipe), Isaias Domingues Batista o “The Flash” e José Assumpção o veterano. Bastava um ceder às inúmeras variáveis do desalento que, todo um sonho e planejamento seriam desintegrados. Então, nos preparamos muito para o acendimento e a experiência permitiu a escolha da rota. Contudo, sabíamos do ganho de elevação próximo aos seis mil metros. Do trecho duro e escasso em recursos e outros tantos, inúmeros! Itens que, desanimam antes mesmo de começar. Mas, o porquê dessa escolha? O conhecimento da estrada com todos os seus estratagemas era fundamental, além do costumeiro ar de acolhimento do interior. Isso fora fundamental com toda certeza e, na Igreja Matriz Sant Ana em Laranjeiras do Sul, estávamos há mais de 360 km de Curitiba. Inúmeros curiosos fitavam os ciclistas estrangeiros e dentre tantos deixamos o agradecimento em especial ao senhor que, compartilhou alguns momentos dolorosos da sua existência e, o ciclista da região, Paulo de Freitas da “LDS Bikers” que sabia muito bem (risos) a casca dura que iríamos enfrentar. Devido ao horário da largada em alguns trechos cruzamos a procissão da sexta-feira santa e, pouco tempo depois estávamos na rodovia. Por mais de 60 km até a primeira parada a noite e a estrada eram somente nossas. A lua rica em cheia taça nos inebriava com sua luz potente. O frescor da noite aumentava a passada e no trecho que carece atenção, a famosa ponte sobre o Rio Cavernoso, os Resistentes rasgavam o asfalto com suas donzelas possantes de duas rodas. Ali nos despedíamos de Cantagalo e entravamos em Candói. Primeira caça pendida, bora em busca do lobo Guará! Segunda parada, Posto de Combustível em Guará entre Ignácio Martins e Guarapuava. Todavia, o espetáculo em apreciar ao longe as luzes das cidades de Laranjeiras do Sul, Virmond e Cantagalo, após escalar Candói, é algo indescritível. Nem mesmo o verso mais enlevado do poeta consegue construir a magia desse encanto aos olhos. Pontos irradiantes, estrelas ao léu, piscavam intermitentes dizendo, talvez, adeus aos ciclistas guerreiros. Ufa! Êxtase ao extremo, espírito alimentado, a lua, o clima e a noite embalava os Resistentes.
Vencido o trecho de mais de 70 km até a segunda parada, a caça ao lobo Guará era conquistada. A terceira flecha prestes a ser lançada, indicava madrugada gelada, porém, o aviso interno do organismo ditava cautela com o sono e, a descida da Serra da Esperança o calemburgo perigoso (risos), a esperança é a ultima que morre,mas morre, avisava manter o foco bem ligado. Que loucura aquilo. A descida seria só nossa a quase 80 km por hora se um único e desgarrado ônibus não estivesse ali (risos). É nesses instantes que o ciclista é invejado por todos! Saborear isso é o mesmo que alcançar a eternidade por um minuto: “Ver um mundo em um grão de areia e um céu numa flor selvagem é ter o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora.” William Blake. Passada a frenesi, o frio da mesma forma fora embora. Galgar os paredões de Prudentópolis até Irati o destino da próxima flecha no Anila. O dia rompendo as barreiras entre as nuvens mostrava um sol preguiçoso. Terceira parada conquistada a flecha começava a esboçar sinais de fraqueza e a mira já não estava tão clara. Transpor os municípios de Fernandes Pinheiros e Irati, antes de chegar a Palmeira, a mente começou a entrar em ação. A mão do líder não deixou abater o espírito guerreiro. Força “Resistentes”! Ele dizia e, essas palavras certeiras seguiram dentro do meu peito acalmando a mente já demente. Cara, todos extenuados, mas vibrantes, juntos, e vibrantes. Chegar a Palmeira dentro do limite do corpo, mente e o danado tempo (risos) infernizando a todo tempo (risos novamente) foi algo fora do normal. Nestes momentos nos perguntamos: pra que tudo isso? O que se ganha com tamanho sacrifício? Tantos gastos e empenho? Perguntas tolas pra dizer uma única coisa: PAIXÃO! E, assim, nossa perna direita é a paixão e a esquerda nossa loucura. O ciclismo de longa distância é insanidade ao extremo e se você está infectado por esse vírus, bem vindo à família. Enfim, lá estava os Resistentes na última parada antes da vigésima segunda hora. Sem pernas, sem mente (risos), sem fome, porém, muito bem acompanhado, José Assumpção se dava por vencido. Tinha plena certeza que o limite chegara. De que forma conseguiria chegar até a parada da vigésima segunda hora, sabendo da dureza do trecho? Novamente o capitão entra em ação e, calmamente fala:
– Zé tenha calma, estamos dentro do planejado. Falta pouco agora e com toda certeza o mais duro à gente já superou. Após a fala fechei os olhos. Levantei-me e fui ao banheiro. Olhei minha face toda desgastada, abatida e pouco abaixo o símbolo da equipe, estampada em nosso uniforme. Comecei a me perguntar da inspiração para aquilo e de imediato uma revolução acendeu minha alma. Lavei o rosto. Coloquei a bandana encharcada de suor e o capacete que, naquele instante pesava uma tonelada. Mirei minha flecha em direção a Balsa Nova, com toda a força ainda restante e, algo ainda escondido, sabe se lá onde dentro de mim, berrava insanamente: Filha duma puta, levanta e fecha essa porra lazarento! Há mais dois caras ali que também tão exaustos e cansados e pare de choramingar. Bora fechar essa porra, caralho! Desculpem os palavrões estimado leitor (a), mas, foi exatamente isso e, após clipar e se conectar a minha companheira fiel, minha neguinha, os Resistentes começavam a batalha até a vigésima segunda hora. Pra não se estender tanto na narrativa, só sei que nunca desci a Serra de São Luis do Purunã daquela forma. Passei o pedágio e entrei na pista com tamanho acúmen que, todo o meu medo por descidas desapareceu na hora. Tinha a certeza que não era mais eu no comando. Outro ser me abduziu e começou a caçada. Terminada a descida tombei imediatamente no posto de combustível em Balsa Nova. Alguns ínfimos minutos de apagão por completo meu corpo carecia e a nova meta seria vencer 32 km até o término da caçada. A praga da desistência me assombrava de novo. Tinha que acalmar se e um livro de histórias de pedaladas percorreu o meu interior. Lembrei-me do primeiro pedal até Almirante Tamandaré onde morei e carregava todos os dias meu filho Roberto, na cadeirinha amarrada de maneira improvisada no bagageiro. Do trecho até Bacaetava pouco mais de 60 km acompanhado pelos mestres João e Toni dando o incentivo e dicas preciosas usadas até hoje. Do Fernando Padilha guri que admiro tanto e grande amigo. Do Anselmo meu grande amigo e pai que estimula o filho no ciclismo de MTB com tanta alegria e empenho. Do amigo Dante e sua força. Do meu amigo Lúcio Lima, do Cícero Brito e todos os organizadores do Clube Audax CWB. Da minha família.
Ah! Enfim, tantas e tantas pessoas estavam ali passando em fleche na minha frente que eu deveria lutar, não sei como, pra fechar o desafio. Além dos companheiros em vigília esperando se eu levantaria ou não da li (risos). Bom, com toda a certeza os mais duros km enfrentados até hoje. Poucos km até o término do desafio? Sim. A última flechada? Sim ou não (risos). Não sentia mais nada. O peso do corpo, capacete, as dores, os desconfortos, tudo fora esmagado. Essa última flechada era dos “RESISTENTES”. Toda a equipe estava ali presente em espírito, pois a batalha havia começado bem antes pra conseguir montar e planejar a ida e volta. Então, me levantei pela última vez e o capitão Anderson de Oliveira deu a voz de comando: – Bora Resistentes, falta pouco agora! E, Próximo das 19 h o sonho se tornava realidade. Após acessar a Rua Jerônimo Durski e virar a esquerda rumo a Pizzaria Altas Horas um clarão de alegria se apossou de cada um. Abraçamos-nos intensamente e comemoramos muito, pois a caçada terminara e a flecha dos Resistentes alcançara o objetivo.
Agradecimentos a Deus e família primeiramente.
Aos nossos apoiadores e patrocinadores:
Cícero Britto Presidente do Clube Audax CWB e proprietário da Virtus Cycle Sport uniformes para ciclismo
Cleidson Mendes Dos Santos proprietário da Copenhague Esquadrias de Alumínio.

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