A insignificância do ser
O abacateiro esse ano provavelmente não mostrará seus formosos frutos e
um dos agentes causadores, desse processo, é o frio. Propagou-se intenso e
perene por longa data e mudou a roupagem do arvoredo que reside no fundo do meu
quintal. Tamanha dó o olhar contemplou e pouco a pouco a lágrima percorria o
semblante inconformado. Porém, dia após dia, demais influentes colaboravam para
a recuperação e a esperança seguia forte e intensa, encorpando o amigo persistente.
Contudo, as intempéries sempre são mudáveis. Hoje bate o sol juvenil, amanhã o
vento menino canta feliz e quando menos se espera a fúria alterna as facetas
gentis da temporada e opera inexorável e insensível aos apelos dos desprovidos!
Tornando-se agora, alijados. É certo que o fato atualmente está mais rotineiro e, a cada
canto do país intitulado emergente, insurge mais e mais abalos nas estruturas
esquecidas, desprovidas e carentes de vigilância. Vigilância que deveria estar
ativa na lembrança daqueles que detém o voto concedido provisoriamente,
contudo, por longa data. Bom, de toda forma é mais aceitável observar imagens
impostas nos meios midiáticos, pois entre uma imagem e outra, logo a notícia
retoma novo assunto e curso, e o ser comovido apenas tem a certeza que a
penúria ocorreu em outras bandas bem distanciadas dos seus arredores. Mas, o
tempo realmente é implacável e mesmo sendo solidário a dor de outrem, o fato
torna-se vivo somente perante a realidade. Assim ocorreu ontem. Aguaça pra mais
de mês e vento pra suprir diversas passarolas, operou na terra de muito pinhão.
Foram poucos minutos de tempestade, mas uma eternidade para inúmeras pessoas. Então
, o celular emite o som da chamada recebida e dependendo de onde vem, desagrada
em demasia. Atendi e escutei o apelo da genitora desesperada. Velozmente
detalhava o drama e as consequências da zanga passageira do vento, da chuva e
do granizo intenso e o pormenor mais temido: o medo. Minha cria agarrada nas
vestes da minha genitora, assombrada gritava e pedia por socorro. Desliguei o
celular e sai imediatamente da labuta. Nada importava, ou melhor, o que
importava era chegar rapidamente em casa. Nestes instantes vemos claramente
operar o inesperado de momento, pois a magrela que me conduz todos os dias até
o trabalho foi primordial para o momento, pois a matutina pronunciou chuva leve
e a condução seria outra até o trabalho . Cruzei avenidas e vi árvores caídas,
cruzei sinaleiros e vi postes de energia elétrica oblíquos e os fios desunidos
propagando a energia pelo chão, pelas calçadas, pela grama. Eu avistava as mais
diversas situações de confusão pós-tormenta, porém, a minha mente caminhava e
avistava apenas o portão de entrada da residência, feito delírio de vagante no
deserto. Até mesmo as buzinas gritantes
e a desordem no trânsito, eu superava imprudente. A meta era o lar. Sim! O lar...
Detalhar o curso na sua totalidade seria o mesmo que construir uma obra
literária farta em páginas e desfocar do princípio. Assim, cheguei. O olhar
citado acima quando contemplou o drama do abacateiro, agora fitava a casa
parcialmente destelhada. Ali notei o tamanho da insignificância do ser nesta
existência. Sobejas palavras escafederam-se e passo a passo o desânimo se
apossava no meu interior. Contudo, as vozes no interior da casa afetada deram
novo alento ao meu ser e o olhar de alegria era mútuo em todos os semblantes. A
cria no seu precoce entendimento da realidade dialogava alegria, espanto e temor.
Já a genitora, mesmo sabedora do atual e, do que por ventura seria possível
para piorar os fatos, agradecia a Deus estar viva. Da mesma maneira, retribui. Então,
o momento era construir. De que forma? Os recursos escassos batiam a porta e
pouco antes de fechar a loja de material para construção, comprei certa
metragem de lona preta pra quebrar um galho. Retornei ao lar. Nestes momentos
os temores floram em abundância e do telhado acabado a retomada da visão detalhava
os arredores. A nostalgia sussurrou em meu ouvido o dito popular: Céu pedrento,
chuva ou vento? Pouco importava. A meta a ser alcançada era cobrir o telhado
danificado. Os passantes miravam o meu
comportamento e cabisbaixos seguiam esperançosos em encontrar a morada intata.
Eu também torcia por isso e após esticar a lona preta, martelei os pregos com
vigor na madeira, pois aquela seria a cobertura mesmo provisória para acudir a
situação. Desci e deitei a escada ao lado da casa de minha mãe e respirei
aliviado. Aliviado? Por quê ou de quê? Nova tempestade atuava em minha mente.
Necessitava ir observar o abacateiro igualmente pra sentir mais intensamente a
tormenta e olhei, avistei e entre “e” e mais “es” as belas folhas verdes foram
devoradas pelo granizo intenso. Sentei ao lado do abacateiro, posicionando
minha cabeça em seu tronco. Vozes silenciosas para muitos eram altas e claras
para mim. Ele também agradecia a Deus por estar de pé e abrandou meu agito
dizendo: Seja forte. O meu fruto e o teu fruto ainda passará por inúmeras
intempéries e provações até conseguir alimentar, agradar e abalizar a próxima
geração.
Amigo, José Assumpção li e reli o texto. Arrepiei- me. Que Deus lhe conforte e dê força para reconstruir o que foi danificado. Vá firme e conte sempre comigo. Eliene de Miranda
ResponderExcluiragradeço de coração o apoio e fiquei muito feliz com as palavras.... obrigado e Deus abençoe hj e sempre a tua existência ser de luz.
ResponderExcluirEmocionante, caro amigo... Sinto tanto a falta sua!
ResponderExcluirBelo, dorido, verdadeiro e tocante, muito tocante mesmo, além, é claro,
ResponderExcluirde super bem escrito... Aplausos!!!