A OBRA DE UM PEDREIRO

Hoje a lembrança vibrante se faz presente perante a leitura do conto abaixo publicado em antologia. Meu finado avô era o artista das obras edificadas com suor e orgulho... Deus guie sempre tua luz, saudoso avô, pois o dia de teu aniversário (hoje) lembro intensamente... segue lá:

O ano, 1950! Representando uma época mui relevante em relação a certas ocasiões para obter respeito, pois o contexto abaixo retrata a obra de um pedreiro zeloso com seu lar onde cultivou a autoridade acima de tudo. Contudo, procuro não detalhar em demasia os ambientes com descrições cansativas, entendendo que deve ser frisado apenas o comportamento tranqüilo para obter o bom tratado no ambiente familiar. Mas, nos dias atuais é algo escasso e privilégio de poucos. Deste modo, entre na leitura e observe que o pedreiro da época em questão ganhou notoriedade pela forma com que erguia cada obra! Sempre se preocupando com a base, a fundação, e ao sentir que deveria partir na busca de outros ares, com o intento de manter o ganha-pão em dia, decidiu de maneira esplendorosa levando consigo o que há de mais importante na vida de um homem “sua família”. Certamente a mudança na época era uma necessidade iminente, devido às condições de transporte.

Todavia, notar a agilidade que ocorre nos dias de “hoje” para se locomover com uma única passagem – por diversos lugares – de maneira alguma era desfrutado, e erguer a obra em questão, o seminário da região metropolitana de Araucária, somente poderia ser feito estando presente para conseguir acompanhar o ritmo da responsabilidade apenas firmada em palavra. E, até onde sei, não existe mais o tal seminário. Deste modo caro leitor (a), acompanhe este breve relato acima e ao entrar no texto abaixo, seja bem vindo (a) a reviver um passado distante.  De tijolo a tijolo se erguia com muita força e dedicação toda uma obra. E, no final do acontecido era majestoso o observar da conclusão demorada, por saber que todo um esforço era deixado, tanto na parte física com as mãos calejadas, como no suor do rosto, que marcava as lágrimas do orgulho no semblante. Destarte, Rico – como era conhecido por muitos – seguia sua caminhada como pedreiro de profissão que hoje não há mais. Contos e mais contos lembravam, seja por onde ele passasse o erguido do orgulho, e assim ficava registrado como história. Um a um vinham à procura do humilde profissional, por ter no preço do seu trabalho, o mais valioso de todos os tesouros “respeito”. Todos que adentravam em seu lar a procura do homem forte em caráter, mas fraco por silenciar suas palavras, tinham a certeza do acabamento inteiro do compromisso apenas firmado em palavra, e sempre assim um serviço atrás do outro, faziam mover a roda de uma vida prazerosa no batente. Seu descansar no lar – também erguido de suas mãos – adentrava com muito encanto para fazer o equilíbrio do seu ser. E, nas chegadas preciosas da manhã que mostra o primeiro passo importante na vida de um homem! Nunca deixara para trás o preparo do café para fortalecer-se com o aroma do primeiro gole, impulsionando firmemente seu coração gigantesco, e então se despedir da amada esposa, até a nova chegada do fim de tarde para retornar para casa e recuperar todas as forças, novamente.  Mais uma obra estava prestes a iniciar-se, e a demora seria um desafio pelo peso do tamanho, tanto em compromisso, como em conclusão. Existia também a distância do ponto de partida que era seu lar, e a chegada até a obra em questão, e algo deixou uma espécie de tristeza prevalecer o silêncio e a demora em sair à fala até a outra parte, que sentia o esposo muito cansado e chegando mais tarde do que o programado.

Mas, com o tempero certo incrementando a fala harmoniosa e sutil para o momento, esta mulher determinada aos poucos tirou a palavra angustiada do peito do pedreiro, como se fosse a colher utilizada para jogar a massa na parede bruta, e desta maneira escutou toda a dificuldade, o desafio e a necessidade para entender o motivo das mudanças. Então, provisoriamente se mudaram do nobre lar para firmar o compromisso em palavra que era lei para o forte pedreiro, e tentar prosperar de maneira simples e humilde, mesmo distantes, nas novas terras desconhecidas. Porém, tamanha força benevolente fluía dessa parceria. Em poucos dias todo o encanto do lugar inóspito ficou enormemente marcado, pela bela lição de dar atenção ao próximo que bate a porta. E, juntamente com a obra magnífica do orgulho de fazer bem feito erguendo-se, também uma espécie de lembrança silenciosa sopraria forte quando chegasse o momento certo de partir. Passo a passo, dificuldades e problemas começaram a sair copiosamente nas palavras que, agora eram partilhadas com a outra parte necessária, demonstrando firme vitória sobre o sacrifício em deixar o nobre lar temporariamente. Cada tijolo levantado resplandecia mais e mais a alegria, e desta maneira o forte pedreiro via com muita calma, a conclusão do compromisso firmado no respeito, erguer-se. Entretanto, uma nova etapa seria áspera e dura para traçar, pois o tijolo colocado fortemente na base da terra desconhecida determinou o bom trato com o próximo, que entre em seu lar, originando laços potentes de afeição. Todavia, mais uma obra do pedreiro, findou-se... Naquele final de tarde chegara cansado como sempre, mas muito satisfeito, e seu guri o esperava alegre e ansioso para sentar-se no colo empoeirado do uniforme do esforço. Que fleuma retratava o instante no cuidado com o filho, feito semente bruta de uma geração! E, o bem deste momento não tinha valor palpável, pois era formado pelo sentir poderoso que nada cobra da cria manifestada, no desejo findado durante o amor absoluto. Passado o momento de atenção, o pequeno homem que surgia aos poucos, deu espaço para a mulher determinada então escutar a fala, que agora não ficava mais retida no peito: – Tenho boas notícias!– A obra está terminada e nossa volta para o lar se faz necessária. – Portanto, vamos arrumar nossas coisas para caminhar o retorno esperado. Uma mudança se estabeleceu imediatamente na mulher, que sentia o drama do silêncio das palavras conflitarem com sua conquista de amizades por onde estava no momento, e o companheiro fiel notava isto ao observar o semblante triste duma mulher, que nunca ocultou suas palavras.  E, esta por sua vez, falou:– Sabia que este momento chegaria!– Sabia também que a partida não seria fácil. – E, sabia mais ainda, que uma obra ficaria inacabada, a dor da saudade em meu peito, perante o tijolo assentado na base conquistada com carinho. Que correria se formou por causa da mudança do lar provisório para o regresso ao lar afetivo.

Aos gritos os pedidos se multiplicavam para cessar a loucura da mudança no entender de muitos, e a dura verdade para o propósito de uma obra acabada. Desta maneira se concluiu o material acabado, e o sentimento esquecido, por nunca ter fim na conclusão que se espera para confortar apenas o imediato. Saudades a todo o momento se carregavam, e no começo de uma nova manhã de verão, alguém veio em busca do pedreiro. Aquele momento era de escassez de obras, e o sustento do pilar forte da casa precisava de trabalho para tanto. Mas, o inusitado pegou de surpresa o homem de palavra, quando escutou que teria que acabar uma obra inacabada. O não imediato reinou naquele momento, e a outra parte diante disto ficou muito chateada e logo estava a sair. A esposa ao escutar o assunto, logo veio interferir no orgulho por saber da necessidade. Mas, poderia ser certo aceitar erguer uma obra inacabada, de outro homem sem palavra? Aquilo era um tormento para Rico ao lembrar-se de cada trecho da profissão que amava de coração, seja por onde passasse e notasse as inúmeras construções erguidas com sacrifício e qualidade. Porém, o apelo da mulher resgatou da memória a dor da lembrança. – Na ida provisória para acompanhá-lo deixei nosso lar. – Na terra desconhecida construí nossa importância. – Por lá deixei uma obra inacabada, a dor em meu peito, por abrir mão de algo que se desmorona, quando se abandona da maneira que foi feita. – Quero que repense e abra mão do teu orgulho por saber do nosso momento de necessidade. Pensante estava o forte profissional diante da palavra e o orgulho, e mais insistente ainda vinha á tona a necessidade. Então de imediato correu atrás daquele homem, e aceitou o serviço. Na nova manhã tudo indicara que a retomada se fazia no mesmo ritmo, a embalar com orgulho o ofício de coração. No entanto, um forte engano surgiu quando avistou a desmoronar tijolo por tijolo se encontrava uma obra em decadência de palavra e qualidade.

O desânimo dominou! E, a desistência quase veio a reinar se não fosse à visão que teve de um menino a correr pra lá e pra cá perto da obra. – Pai, este é o pedreiro que irá terminar nossa casa? A pergunta da inocência deu forças ao nobre pedreiro, para erguer os pilares do orgulho de uma profissão de poucos, e assim retomou e ergueu com tristeza e alegria, cada tijolo que caíra. No término algo mudou profundamente no espírito de luta daquele forte homem. O silêncio perverso retornou com muita força, e determinou toda a queda de uma trajetória que sua companheira conquistara. Dia a dia apenas seguia, e o pedreiro recordava que, nem toda a obra deve ficar inacabada, se for erguida com sentimento.

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