A DIVISÃO


Sempre pela caminhada o tempo encurta as distancias, seja qual for o objetivo a traçar o passo a seguir. É desta forma que tudo que cerca se manifesta rapidamente a incomodar, pois o nosso conflito interior dita uma voz incansável a atormentar para mudar a condição de sofrimento. Venci uma etapa! Parabéns... Superei uma batalha! Sucesso então... Mas no momento de comemorar lembrei que, ninguém estava perto a retribuir a recompensa pelo esforço, com o abraço necessário para dar força. Que arrepio marcou isto desde então. Procurei um amigo e então compartilhei o abraço. Mas seu abraço não preencheu a necessidade.

Qual seria está necessidade? O afeto delicado do toque do desejo e do carinho do corpo. Esta partilha é uma fonte majestosa da briga de manter em pé a vitória sobre a etapa e a superação diante da batalha. Daí, sim, o sucesso é pleno. Mas, não! Por minutos isolado no meu apartamento segui a procurar este abraço do amigo, que trouxe apenas um pequeno segmento do mágico mundo do “sentimento”. Olhei as quatro paredes a demarcar o meu território e na imensidão daquele quarto, vi ao longe a janela a me chamar.

Abri e com o olhar a observar o horizonte, avistei o dia a clarear. Não me dei conta que a madrugada passara tão rapidamente, e nunca dei muito interesse para o dia que sempre chega. Mas, algo clareou o dia para mim de outra maneira. O sol que aquecia minha face na vista da janela trouxe outro abraço que fez a divisão entre o amigo e o dia a clarear, na condição de ter mais uma maneira de sentir. Vi que a cada luta da manhã a chegar, teria que mudar algo para então o sufoco ir embora. Voltei rapidamente a me arrumar e depois de um banho demorado fui à busca do abraço que traria a solução para a divisão que se formou.

Pela rua a seguir da cidade que não para nunca, olhei para inúmeras faces e, nenhuma trouxe a solução para a condição da divisão. Então, sentei no banco da praça. Cruzei as pernas e novamente para o alto tornei a olhar. Incrível! Não estava no meu apartamento , mas os edifícios que me cercavam , davam o entendimento para minha consciência que mais um quarto de quatro paredes estava a me rodear. Procurei a janela para me guiar no horizonte que trouxe a luz do abraço do calor que chegou a minha face e nada consegui visualizar.

As paredes foram se fechando rapidamente, pois a minha mente a sofrer me sufocava e assim disparei a correr incansavelmente no meio das faces que não me abraçavam como o amigo o fez. Por quê? Isto era fácil de notar, pois a minha fuga não era à busca do abraço do amigo e do calor que chegou a mim de repente. Mas sim o delírio de fugir da voz que seguira atrás de mim a dizer: “Corra, corra”! Corra cada vez mais rápido ao encontro do nada! E quando se cansar irei continuar a atormentar! E sabe por quê? Porque você ficou muito tempo isolado de todos e de tudo e quando foi em busca do abraço necessário a única coisa que você poderia abraçar era você SÓ.


“Ficar a distância de todos imaginando que a construção de toda uma vida nos torna merecedores de desfrutar o conforto é um engano fatal.A voz da solidão quando chega marca a demora em desaparecer e diante disto o nosso sofrimento é um quarto de quatro paredes a apertar e sufocar cada vez mais”




Obs. - ensaio do conto "A Divisão" escrito em 2005, com versão final datada de junho de 2010...este daqui é o protótipo. Versão final é segredo de estado [risos] .



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CATIVAR