O BAR DO BILO 7º MOMENTO – CENTENÁRIO




















Reta final de campeonato, ou seja, última rodada do brasileirão e a domingueira desponta um sol maravilhoso a determinar que o dia segue firme. Bom, até ai nada de novo, uma vez que o furacão despachou o fogão, depois de uma vitória primorosa no palácio vermelho e preto, e o timeco do Pacheco sofrendo e temendo se integrar a zona dos desesperados, a tal segundona. E por falar em segundona o bar do Bilo como sempre aguardando os clientes fiéis a bater cartão logo cedo, depois do compromisso com o batente. Lembrei que estava de folga e a patroa ao levantar disse:


– Não quero nem ouvir falar em futebol hoje!

Não entendi muito bem a ordem, mas como é a mulher que manda sempre – ainda mais se aproximando do almoço – resolvi não replicar e dar uma alfinetada de leve. Só para recordar a memória dos leitores de plantão, a minha patroa é coxinha branca topetuda, e como o amor é cego, feito pé de atacante na hora do pênalti, segue o bonde.

– Tudo bem, mas quero coxinha no café da manhã e bem frita!

A tal da coxinha estava no freezer juntamente com mais cem , aguardando uma certa comemoração de um tal centenário , do time do Alto da Glória – topo da graça apenas em localidade , pois o elenco há tempos deve e muito para torcida – e a patroa tinha combinado um café após o jogo, como alívio a lembrar o aniversário de fundação do seu clube.Ficou irada com o pedido e após o café da manhã , resolvi passar no bar do Bilo para buscar uma costela , devido a folga no serviço. Cheguei e o Bilo todo sorridente a comemorar a escapulida do tricolor da Vila Capanema da terceira divisão – chegar neste trecho quando o assunto é futebol, é pior que a segundona – e desta maneira entendia perfeitamente a alegria do Bilo paranista. Não esquecendo nunca da preciosidade da casa, a boa e velha caninha Trevisan.

– Bilo manda a prata da casa antes de qualquer coisa, e deixa separado um quilo de costela.
Feito o pedido o Bilo reforçou:

– Zé, meu time agora que firmou o elenco, perde o técnico. Haja paciência com esta diretoria... Coitado do Bilo, mas pensei em silêncio.

– Enquanto o Bilo comemora a permanência na segundona, o traia do Pacheco rói unhas e esquenta a cachola, fazendo conta para não ser rebaixado.

Voltei cambaleante para casa e a costela embaixo do braço, feito embrulho de açougue. A comida na hora certa e na mesa um silêncio vexante, onde somente o barulho do manuseio dos talheres e copos era preponderante, ante a tensão das horas que iriam decidir lágrimas de alegria e tristeza. Percebi que diante da situação, o mais sensato seria assistir ao jogo longe de casa, então liguei pro Pacheco e pro camarada Péricles, mas o celular de ambos só na caixa postal. O bar do Bilo fechado, e os comparsas ausentes, o jeito foi ir pro ambiente da dor, assistir o urubu fazer a lição de casa, todavia já estava escrito o resultado da peleja, pois o Grêmio gaudério não iria perder o jogo , uma vez que o Colorado dos Pampas , se vencesse seria campeão. Mas e o timeco do Pacheco? Onde entra neste chinfrim? Afinal de contas o conto é sobre o centenário coxa! Ou pelo menos parte dele.

Bom, retomemos o assunto (risos).O time do Pacheco também precisava fazer o dever de casa , e como o furacão não é parvo , deixou a bomba na mão do arquirrival alviverde , a presentear a torcida com uma apresentação impecável , diante do tricolor das laranjeiras. Neste instante notei o ponteiro do relógio se aproximando das 17 horas e ao chegar, logo sentei a aguardar. Passado vinte minutos de jogo, o tricolor gaúcho marca primeiro e na tela da TV o aviso de cada gol da rodada marcava o drama do acirrado torneio. Foi então que a informação chegou forte. Um a zero pro Fluminense. Desespero total e por mais que eu seja atleticano de coração, sei o quanto é desastroso ter mais um time paranaense na segundona. Mas enfim, comemorei sem muita relevância. Bola pra lá ,bola pra cá e o Flamengo empata a partida . Termina o primeiro tempo. Na tela da TV a emissora a informar a condição dos rebaixados e do campeão , se as partidas tivessem todas encerradas . Internacional campeão e Botafogo rebaixado. Seria o presente ideal para o tal centenário alviverde, mas o segundo tempo inicia e o sofrimento idem. A minha condição até então era apenas a acompanhar sossegadamente e aguardar o término de cada partida. Lance pra lá, lance pra cá e o Flamengo vira a partida. Termina o espetáculo, urubu campeão brasileiro. Não comerei e então seguia a acompanhar no radinho de pilha de um colega, o andamento do jogo do patoxa. Que situação e diante da dureza, nem um dreher resolveria, mas sabia do empate insuficiente que rebaixaria o timeco do Pacheco.

– Apita o árbitro, fim de jogo no Alto da Glória...

Os dizeres do narrador somavam-se a situação caótica do campo invadido e inúmeros torcedores, num ritual de combate, a buscar uma resposta para o fracasso. O ambiente ferveu e fui a procura do Pacheco, para repassar o meu pesar diante da situação. Mas o traia estava de folga também. Voltei para o lar e no ônibus a mente matutava.

– Do jeito que está a segundona, somente no bicentenário o timeco do Pacheco poderá voltar à elite e presentear a torcida. Mas enquanto isto não acontece o jeito é aguardar a próxima segundona no bar do Bilo, e agüentar a lamúria do Pacheco, com o copo na mão e o talagaço da preciosidade da casa , a acalmar os ânimos .... Dá-lhe, dá-lhe ô!!!!!!


Comentários

  1. meu time vai p a Libertadores... e o seu??
    heheheeh...
    bom ver seu ânimo chegando nos eixos... não SUMA!
    beijocas

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